A serotonina é uma monoamina neurotransmissora (monoaminas são substâncias derivadas de aminoácidos), sintetizada por algumas células do sistema nervoso central (SNC) e do revestimento do trato gastrointestinal (inclusive humano).
Relacionada às sensações de bem-estar, cientistas acreditam que a serotonina representa papel importante como neurotransmissor na inibição da raiva (e, portanto, no controle da agressão, uma vez que atua sobre o sistema límbico, unidade do cérebro responsável pelas emoções e condutas sociais), da temperatura corporal, do apetite e do vômito. A transmissão destes sinais está relacionada ao desenvolvimento de doenças como a depressão.
Médicos, bioquímicos e outras cientistas ainda não compreenderam totalmente as áreas de atuação dos neurotransmissores, mas diversos estudos identificam algumas delas. Confira alguns dos “trabalhos” da serotonina no nosso corpo.
Efeitos no organismo
Todos os neurotransmissores, naturais ou sintéticos, são substâncias com função de biossinalização: é através delas que os neurônios enviam mensagens entre si e também para outras células. Em outras palavras, a “ordem” do cérebro pode ser transmitida de célula para célula do SNC e também para realizar a função final do tecido alvo (como reagir à dor ou fazer um movimento).
• Sono – a serotonina é responsável pelo estado de vigília do cérebro. Isto significa que ela nos deixa em alerta, uma necessidade básica quando caminhávamos por caminhos desconhecidos (cercados por feras e inimigos) e ainda hoje, quando transitamos por uma rua escura.
Para que o sono proporcione o repouso adequado, a serotonina age em duas frentes: ela rege as primeiras fases do sono (sonolência e sono leve). Para que as etapas seguintes, onde surgem os sonhos, possam acontecer, o neurotransmissor precisa estar inibido.
A fase de sono REM (rapid eye movement, ou movimento rápido dos olhos, onde surgem os sonhos), que se alterna à fase NREM (não REM), ocupa apenas 25% do tempo de descanso noturno, o que revela que, mesmo dormindo, mantemos certo controle do que ocorre à nossa volta.
• Controle do humor – a depressão e outros distúrbios do humor (transtorno bipolar, ansiedade, ciclotimia, etc.) não ocorrem necessariamente por deficiência na produção da serotonina, mas porque a transmissão não está sendo tão eficaz quanto deveria.
Alguns antidepressivos atuam inibindo a receptação da serotonina, aumentando a quantidade deste neurotransmissor nos espaços entre os neurônios, onde ocorrem as sinapses. Entre as reposições naturais, estão as dietas ricas em precursores do neurotransmissor, em especial o triptofano, a vitamina B3 (niacina) e o magnésio (são substâncias utilizadas pelo SNC na produção da serotonina).
As fontes destes nutrientes são as carnes (brancas e vermelhas) e seus derivados, grão-de-bico, vegetais folhosos, banana, tâmara e amendoim. O magnésio não está presente nas carnes, mas é abundante nas sementes (abóbora, girassol, etc.) e nas oleaginosas (amêndoas, nozes, avelãs, pistache, etc.).
Importante: a serotonina é uma das aminas responsáveis pelo humor. Com a transmissão deficiente, é natural que nos sintamos irritados, mal-humorados, impacientes ou, por outro lado, tristes e com forte propensão para o choro.
Uma vez equilibrada a transmissão, a sensação de bem-estar retorna naturalmente. Quando passamos por longos períodos de oscilação, porém, é necessário acompanhamento médico e psicoterápico para reaprendermos a lidar com nossos sentimentos.
• Enxaqueca – as causas deste tipo de dor de cabeça ainda não estão totalmente estabelecidas, mas sabe-se que estão relacionadas com a atividade cerebral. Novamente, os antidepressivos, usados para tratar as dores, indicam a queda de disponibilidade de serotonina durante as crises.
Ao reduzir a velocidade da receptação do neurotransmissor, os medicamentos aumentam a disposição do paciente e também melhoram o humor. Com isto, as dores da enxaqueca são atenuadas ou totalmente eliminadas.
Mesmo assim, o tratamento não é universalmente indicado. Ele pode ser adotado, a critério médico, especialmente com pacientes que apresentam crises constantes. É importante salientar que a enxaqueca tem diversas outras causas, que precisam ser convenientemente diagnosticadas.
Outros efeitos
Os efeitos relacionados a seguir são ainda mais incompreendidos pela ciência (até o momento). No entanto, já existem elementos suficientes para associar a serotonina a eles.
• Saciedade – em níveis normais, a serotonina inibe a fome, por “atrasar” o aviso para o cérebro de que, mais uma vez, está na hora de comer.
Na verdade, o efeito inibidor ocorre apenas em relação aos carboidratos. Isto explica em parte por que, quando estamos tristes (naturalmente carentes de serotonina), sentimos uma vontade maior de comer chocolates e outros doces.
• Atividade sexual – apesar de ser conhecida como o “neurotransmissor do prazer”, a serotonina pode prejudicar o desempenho sexual. Isto ocorre quando ocorre um excesso de serotonina atuando principalmente no hipotálamo, responsável pela liberação das gonadotrofinas.
Estes hormônios sexuais regulam a sexualidade e, quando são inibidos, provocam uma redução da libido. A diminuição da serotonina por meios medicamentosos está bem documentada, mas só pode ser feita depois de análise médica.
Regulando a serotonina
Existem várias possibilidades naturais de regular os níveis de serotonina no organismo. Vale lembrar que elas são indicadas para adultos saudáveis, sem histórico de transtornos do humor, crises frequentes de enxaqueca, nem problemas de insônia. Confira:
• consuma carboidratos – quando estamos tristes, recorremos às chamadas “porcarias”. Em mais de uma cena cinematográfica, o protagonista aborrecido se entrega ao pote supergrande de sorvete.
Mesmo sem cometer excessos como estes, é comum repetir a sobremesa, manter uma “reserva estratégica” na gaveta do escritório, etc. Com o consumo regular de carboidratos, no entanto, esta tristeza tende a ser reduzida. Só não se pode exagerar, porque doces, massas, arroz e batatas são bastante calóricos;
• inclua na dieta alimentos ricos em triptofano – magnésio e tiamina (já citados), os precursores da serotonina (“precursor”, no caso, significa que estes nutrientes estimulam a produção do neurotransmissor);
• faça o que dá prazer – para algumas pessoas, são os exercícios físicos. Para outras, o bate-papo descontraído com amigos. Outras ainda, sentem-se estimuladas ao desenvolver um hobby, que pode ser culinária ou jardinagem (não importa a atividade em si, mas o prazer que sentimos ao executá-la). Não viva apenas para as obrigações: divertir-se é uma atividade importante em nosso dia a dia.