Um estudo realizado pela Universidade da Califórnia e publicado pela revista americana “Nature” concluiu que as causas da maioria das doenças crônicas estão relacionadas não apenas a obesidade, mas também ao consumo de tabaco, álcool e açúcar. Os pesquisadores sugeriram que a venda de itens produzidos com açúcar deveria ser controlada pelas agências reguladoras.
Os produtos manufaturados com sacarose (o açúcar refinado) devem ter o consumo reduzido ao mínimo. A substância apresenta características acidificantes que provocam a desmineralização do organismo, aumentando fortemente a propensão de determinadas enfermidades, como as que afetam os rins, fígado, pâncreas, coração, vasos sanguíneos e até mesmo o cérebro.
São as chamadas “doenças modernas” – entre elas, a esteatose não alcoólica, o depósito de gorduras no tecido hepático, que pode desencadear em cirrose ou até mesmo em câncer no fígado.
O consumo ideal de açucar
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o consumo de açúcar não seja superior a 10% do total de calorias ingeridas; em uma dieta de um homem adulto de 1,75 metro, de 2.000 calorias, apenas 200 devem ser preenchidas pelo ingrediente.
Isto é equivalente a uma fatia fina de bolo, cinco colheres (café) para adoçar as bebidas ou dois brigadeiros pequenos, de 20 gramas cada. Os brasileiros, no entanto, ignoram a recomendação: 14,5% do total de calorias diárias são obtidos através dos doces, refrigerantes e outras guloseimas açucaradas.
A prevenção
Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC), um conjunto de órgãos americanos que visam à promoção da saúde, pesquisou os brasileiros e concluiu que 19 milhões de habitantes (cerca de 10% do total) sofrem de diabetes mellitus (O Ministério da Saúde afirma que o número é menor: seriam nove milhões de portadores do distúrbio metabólico).
O problema mais grave é que menos da metade dos diabéticos tem o diagnóstico da doença, que pode passar anos sem manifestar sintomas. Alguns pacientes simplesmente se recusam a seguir o tratamento, expondo-se a complicações severas. No caso dos diabéticos, o consumo de açúcar precisa ser rigorosamente controlado.
As duas principais formas da doença são os tipos 1 e 2. No primeiro caso, o diabetes é um defeito genético do pâncreas em produzir insulina, o hormônio que regula o teor de açúcar na corrente sanguínea. O total de casos do tipo 2 tem aumentado bastante nos últimos anos, principalmente a partir dos 30 anos, e é causado por maus hábitos (sedentarismo, tabagismo, consumo exagerado de açúcar, etc.).
O pré-diabetes é uma condição clínica que precede o diabetes tipo 2. Trata-se de um estado de resistência à insulina: o pâncreas produz o hormônio em excesso, para tentar controlar o excesso a glicose em circulação no sangue. O principal fator de risco para o pré-diabetes é o ganho de peso, uma das “especialidades” do açúcar.
Mais causas
Não são apenas os diabéticos que precisam se cuidar de maneira adequada. Entre outros motivos, o consumo de açúcar refinado:
• acelera o processo de envelhecimento, por aumentar os radicais livres, naturalmente gerados por diversas funções orgânicas. Em um processo orgânico natural, a glicação avançada ou AGE (Advanced Glycation End Products), as moléculas de glicose se aderem a partículas de proteína. Estas novas moléculas se depositam sobre as células, fato que dificulta a renovação da elastina e do colágeno. Este processo é cumulativo: os efeitos da glicação permanecem agindo no organismo, causando rugas e manchas;
• contribui para o ganho de peso e a obesidade, inclusive em crianças a partir dos três anos. Vale lembrar que, em função dos maus hábitos, quase 60% dos brasileiros desenvolvem o sobrepeso;
• a maioria das crianças obesas (mais de 65% do total) tendem a manter esta condição na idade adulta, fator determinante do estabelecimento de diversas doenças crônicas;
• acelera a descalcificação dos ossos, favorecendo a osteopenia e a osteoporose. As mulheres são mais afetadas: três em quatro diagnósticos de osteoporose são identificados entre elas, especialmente depois da menopausa. A doença é a maior causa de quedas e fraturas entre os idosos brasileiros;
• os sintomas de artrites e artroses (alterações inflamatórias que podem acometer todas as juntas do corpo) são sensivelmente piores entre os que abusam do açúcar;
• aumenta as taxas de triglicerídeos e do ácido úrico, normalmente eliminado pelo sistema excretor, mas que pode se acumular nos tecidos, dando origem à gota, com inflamações e dores nas articulações;
• provoca um vício literalmente real. Diversos estudos comprovam que o consumo aumenta com o tempo, especialmente em momentos de ansiedade, estresse e tristeza. Os doces funcionam como uma muleta psicológica, por estimular a produção de neurotransmissores relacionados ao prazer e bem-estar, como a dopamina e a serotonina;
• o consumo exagerado provoca resistência orgânica. Isto significa que os apaixonados por doces são mais suscetíveis a crises de hipoglicemia (baixos níveis de glicose na corrente sanguínea). Por outro lado, o consumo não gera nenhuma sensação de saciedade;
• alguns estudos recentes sugerem a queda da resistência do organismo, especialmente nos casos de infecções bacterianas. Já está comprovado que o açúcar reduz a elasticidade dos músculos, prejudicando a funcionalidade do corpo;
• o consumo fornece apenas as chamadas calorias vazias, sem benefícios para o corpo. Não existem vitaminas nem sais minerais presentes no açúcar refinado; eles estão presentes na cana-de-açúcar, mas o processo de refino os elimina completamente;
• o açúcar ainda pode provocar cáries dentárias, está associado ao descontrole da população de Candida albicans, fungo microscópico que povoa a região íntima das mulheres e pode provocar doenças genitais e aumenta os riscos de problemas cardiovasculares.
O organismo humano interpreta álcool e açúcar da mesma maneira (as duas substâncias fornecem a mesma medida calórica: 7 kcal por grama).
Isto obriga o pâncreas a produzir mais insulina, para equilibrar o teor de glicose no sangue. Com isto, tanto o álcool quanto o açúcar podem provocar crises de hipoglicemia e, no médio prazo, causar uma pancreatite.
O que fazer?
A melhor forma de manter o açúcar no cardápio é trocar o produto refinado por mel, açúcar demerara ou mascavo, stévia e aumentar o consumo de frutas: a frutose (o açúcar presente nestes vegetais) é uma molécula mais complexa do que a sacarose e, por isto, dá “mais trabalho” para o sistema digestório, fato que prolonga a sensação de saciedade, já que o nutriente é absorvido menos rapidamente.
Existe um benefício adicional, como a digestão da frutose é um processo mais lento, o organismo transfere o açúcar apenas gradualmente, garantindo uma fonte energética mais duradoura.
Os adoçantes sintéticos também podem substituir o açúcar (existem produtos em gotas e também os culinários, para o preparo de bolos e tortas). O aspartame (ou E951) deve ser evitado, uma vez que o consumo pode provocar ou agravar desde dores de cabeça até quadros de amnésia, passando por problemas de insônia.
O abuso dos adoçantes também deve ser evitado, no entanto: em excesso, eles ativam os receptores de glicose presentes no intestino. Isto aumenta a glicemia e predispõe ao diabetes tipo 2 e ao acúmulo de gordura, especialmente no quadril e na região do abdômen.
A stévia é uma boa substituta. Os adoçantes são extraídos da folha Stevia rebaudiana e adoça 300 vezes mais do que o açúcar refinado. Já existem produtos em pó à venda nos supermercados e lojas de produtos naturais que não alteram o sabor dos pratos.
Açúcar mascavo ou demerara (este último também é conhecido como cristal dourado) são boas opções, mas são contraindicados para os diabéticos. Os dois ingredientes são obtidos nas primeiras extrações da cana-de-açúcar; por isto, possuem menos calorias e fornecem diversos nutrientes, como cálcio, fósforo, magnésio e potássio.
Em alguns pontos de venda brasileiros, o açúcar mascavo é oferecido a granel, ficando exposto a sujidades e outras formas de contaminação. É preferível optar pelo produto embalado na fábrica. O consumo, vale lembrar, deve ser moderado.
O mel é constituído por glicose e frutose, boa fonte de carboidratos, vitaminas do complexo B e sais minerais, além de ações antifúngicas e bactericidas. No entanto, é altamente calórico e, quando aquecido, perde parte dos nutrientes.
O açúcar orgânico é apenas o produto refinado extraído da cana-de-açúcar sem o uso de fertilizantes, herbicidas, hormônios e organismos geneticamente modificados (OGM). Trata-se de um açúcar mais caro, também não fornece nutrientes e aumenta a glicemia no sangue.
As vantagens são: proibição de radiações ionizantes (que podem produzir alguns compostos cancerígenos, como o formaldeído e benzeno) e também do emprego de aditivos químicos, como corantes e emulsificantes, além da produção ambientalmente sustentável.
Acessulfame-K: este “palavrão” é o nome de um adoçante sintético com poder entre 130 e 200 vezes a do açúcar branco. Ele pode ser adicionado a todos os pratos e bebidas e também está presente nos chicletes sem adição de açúcar. O acessulfame-K não acrescenta nenhum nutriente à alimentação diária, mas não existem estudos sobre possibilidades de malefícios à saúde.