A febre amarela é uma infecção viral, transmitida, nos meios rural e silvestre, pelo Aedes aegypti (o mesmo que causa a dengue, febre zika e febre chikungunya) e, nas concentrações urbanas, por insetos do gênero Haemagogus. Em qualquer caso, a doença é transmitida por fêmeas de mosquitos, que necessitam de algumas substâncias do sangue de mamíferos na época da postura dos ovos.
Os vetores da febre amarela são nocivos apenas para os seres humanos e algumas outras espécies de primatas.
Macacos, micos e saguis infectados não transmitem a doença diretamente, mas podem transferir os vírus para outros mosquitos, ampliando a probabilidade de um surto ou mesmo de uma epidemia da doença.
Nossos primos são muito mais suscetíveis à febre amarela. No Brasil, em média, o tipo urbano da enfermidade causa a morte de 8% dos pacientes. Entre os macacos, a infecção de um único indivíduo quase sempre leva ao extermínio de todo o bando.
Mesmo assim, quando surgem notícias de primatas mortos sem causa aparente, as populações rurais tendem a recorrer a chacinas, para evitar a propagação da doença. Na verdade, a morte coletiva de macacos costuma pressagiar surtos da febre amarela.
O surto atual da febre amarela
Em janeiro de 2017, surgiram as primeiras evidencias de febre amarela urbana. Os primeiros casos foram registrados em Minas Gerais, no Triangulo Mineiro, região de forte tráfego de pessoas e cargas dentro do Estado e para os Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.
No início de fevereiro, o Ministério da Saúde confirmou 60 mortes por febre amarela, a maioria em Minas Gerais (São Paulo registrou quatro óbitos e o Espírito Santo, três). Os hospitais brasileiros já notificaram mais de 900 casos suspeitos; sete deles continuam sendo investigados.
A febre amarela recebe este nome porque, durante a fase aguda, a doença causa hemorragias internas em diferentes graus e também atinge o fígado, provocando diversos transtornos hepáticos – a icterícia, que confere um tom amarelado à pele, é um dos principais sintomas da enfermidade.
A doença é transmitida em dois ciclos diversos (apesar de a enfermidade ser rigorosamente a mesma):
• febre amarela silvestre – é o tipo mais comum na América Latina. Mosquitos (especialmente os nativos da Amazônia e do Pantanal Mato-Grossense) portadores do vírus picam os primatas, infectando-os. Os homens e outros animais passam a ser hospedeiros; isto significa que um mosquito inofensivo, ao picá-los, torna-se um vetor;
• febre amarela urbana – nestes casos, um indivíduo picado em região silvestre, ao retornar ao município, passa a infectar os mosquitos do entorno, transformando-os em vetores. Em nenhum destes dois casos, não existe transmissão direta de mamífero para mamífero.
No Brasil, o último caso de febre amarela urbana foi registrado em 1942, no Acre. A partir da década de 1970, as autoridades passaram a se preocupar com esta forma da infecção viral, com o reaparecimento das infestações por Aedes aegypti, mas não há casos comprovados desta transmissão.
Depois de ser picada, a vítima entra no chamado estágio de viremia, que dura cerca de uma semana, nos quais, ainda sem apresentar sintomas, pode transmitir o vírus para outros insetos.
Sintomas da febre amarela
Muitas pessoas acometidas de febre amarela não apresentam sinais. Isto ocorre principalmente entre os que já contraíram a doença anteriormente e também entre os que tomaram apenas uma dose da vacina (para tornar a imunização eficaz, são necessárias duas doses). Os sintomas mais comuns, de acordo com avaliações clínicas e relatos de pacientes, são:
• febre repentina;
• calafrios;
• dores musculares (principalmente nas costas);
• face e olhos avermelhados;
• falta de apetite;
• náuseas e vômitos;
• intolerância a luz (fotofobia);
• fadiga excessiva;
• sonolência.
Durante a fase aguda da febre amarela, que dura apenas três ou quatro dias, os sintomas são intermitentes e desaparecem sem necessidade de intervenção médica, o que leva os pacientes a pensarem que tiveram uma gripe forte.
Em alguns poucos casos, no entanto, os pacientes voltam a sentir os mesmos achaques apenas 24 horas depois e desenvolvem sintomas ainda mais complicados. Esta é a chamada fase tóxica, em que o vírus da febre amarela pode atacar diversos órgãos (notadamente o fígado e os rins). Os principais sinais são os seguintes:
• febre alta e constante, severamente incapacitante;
• icterícia (cor amarelada na pele, olhos e mucosas);
• sangramentos pela boca, narinas e olhos (além de hemorragias internas);
• urina e vômito escuros (indicativos da presença de sangue);
• dores abdominais.
Em alguns casos, os doentes podem apresentar delírios, convulsões e até mesmo entrar em coma. Estes sintomas podem ser confundidos com leptospirose, dengue hemorrágica, malária e hepatite viral. Dependendo dos danos causados ao organismo, a fase tóxica pode levar o paciente à morte em apenas dez dias.
Sobre o tratamento da febre
Quem sentir os sintomas da febre amarela, mesmo atenuados, deve procurar orientação médica imediatamente. A avaliação de saúde é útil não apenas para ajudar a superar a doença, mas também para permitir a adoção de políticas públicas para conter o avanço de um surto.
O especialista a ser consultado é o infectologista e, na sua indisponibilidade, o clínico geral. O paciente deve de preparar para a consulta, preparando uma relação dos sinais e levantando o histórico de saúde, inclusive com a informação dos medicamentos de uso frequente.
O diagnóstico é estabelecido através da avaliação dos sintomas, histórico médico e identificação de possíveis exposições ao vírus e aos mosquitos. Depois destas providências, algumas culturas de laboratório podem ser analisadas para investigar a presença do vírus ou de anticorpos que indiquem uma infecção anterior.
O tratamento é apenas sintomático: não existem medicamentos específicos para combater o vírus da febre amarela. Analgésicos, anti-inflamatórios e antipiréticos são empregados para garantir o bem-estar dos pacientes. Em alguns casos, de acordo com a gravidade do quadro, a internação hospitalar pode ser necessária.
Alguns medicamentos, como os que tem acido acetilsalicílico ou paracetamol como princípio ativo, não são indicados para os portadores de febre amarela, uma vez que aumentam as probabilidades de sangramento.
Durante a convalescença, os pacientes devem manter repouso, ingerir boa quantidade de líquidos (inclusive o soro caseiro, que trata a desidratação e alivia os sintomas das náuseas e vômitos) e tomar os medicamentos nos horários e dosagens recomendados. O surgimento de complicações exige intervenção médica rápida.
Vacina contra a febre amarela
A vacina contra a febre amarela é produzida a partir de uma estirpe viva atenuada dos vírus da doença, cultivada em ovos embrionados de galinha. A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera a vacinação como a forma mais eficaz de combate a doença.
A vacinação é contraindicada para grávidas, mulheres que estão amamentando e portadores de doenças imunodepressoras, como neoplasias, AIDS e algumas doenças crônicas. Pessoas que sofrem de alergia ao ovo, mas apresentam manifestações leves ou moderadas podem receber a vacina. Na dúvida, solicite a orientação de um médico.
A imunização é indicada para pessoas de nove meses a 60 anos de idade que habitam em regiões de risco, viajam para estas regiões ou estão planejando visitar um dos 130 países que exigem a vacina contra febre amarela para conceder visto de entrada a brasileiros. As autoridades sanitárias brasileiras recomendam a aplicação de duas doses, com intervalo de até dez anos entre elas.