As plantas são cultivadas como objetos ornamentais há milênios. O lírio-branco, por exemplo, já enfeitava as casas da civilização minoica, que floresceu em Creta, a maior ilha do mar Egeu, entre os séculos XXX e XV a.C. O interesse humano com relação às plantas, no entanto, quase sempre foi utilitário, especialmente com objetivos de alimentação e medicação.
As plantas medicinais são companheiras da humanidade desde antes do advento da escrita. A cura dos males, quase sempre identificada com poderes mágicos e sagrados, está na raiz de quase todas as religiões ancestrais. As primeiras hortas de plantas medicinais foram citadas em um tratado de medicina chinês de 3700 a.C. Quem era o jardineiro? Shen Wung, o próprio soberano do império ocidental.
Como fazer?
Fazer uma horta de plantas medicinais é um hobby válido tanto para pequenos apartamentos, quanto para chácaras e sítios. De acordo com o espaço disponível – que pode ser apenas uma floreira de 30 cm de comprimento –, é possível garantir algumas ervas que aliviam dores ou mesmo iniciar um novo e lucrativo negócio.
Além de garantir os ingredientes necessários para diversos chás e infusões, as plantas medicinais também são decorativas e podem ser o início de um “canto verde” em casa. Além disto, cultivar uma horta é, por si só, terapêutico: passar alguns minutos diários ocupado com regas, mudas, retirada de folhas mortas, etc. alivia o estresse, reduz a ansiedade e colabora com pontos importantes, como a capacidade de memória e de concentração.
O passo a passo
A primeira providência para fazer uma horta de plantas medicinais é a escolha do espaço. É necessário que ele receba luz solar direta ao menos durante algumas horas do dia e seja bem ventilado, sem, no entanto, expor as plantas a correntes de vento.
Em um quintal, é possível contar com estruturas já prontas, como caramanchões e cercas. Nos apartamentos, as plantas podem ser cultivadas em terraços, floreiras e mesmo em ambientes internos. O importante é que, uma vez escolhido o local da horta, ele seja mantido: as plantas não gostam de mudanças.
Outra providência importante é deixar os vasos longe da cozinha e do banheiro. As emanações do chuveiro e do preparo dos alimentos podem prejudicar o desenvolvimento e até mesmo alterar as propriedades medicinais de algumas espécies.
Escolhido o espaço, defina as espécies que irão compor a horta de plantas. Lembre-se: a mistura de espécies é desejável, uma vez que cada planta tem defesas próprias contra algumas pragas (como os pulgões, por exemplo). Plantados próximos umas às outras, os vegetais farão uma teia de proteção mútua, garantindo saúde e crescimento adequado.
O substrato é fundamental para o bom desenvolvimento. Adquira terra vegetal rica em húmus, um adubo natural. O produto é encontrado em lojas de artigos para jardinagem. Algumas espécies podem necessitar de alguns cuidados, como fertilizantes para folhas ou raízes.
Lembre-se: os fertilizantes foliares devem ser diluídos na proporção indicada pelo fabricante e aplicados pela manhã (antes das 10h) ou à tarde (depois das 16h), períodos em que o Sol não está tão forte. Para o solo, dê preferência aos produtos orgânicos, como pó de serra, lodo de cervejaria, fosfato natural, torta de mamona e sulfato de potássio. Tome cuidado com as dosagens.
As espécies
As plantas medicinais podem ser escolhidas tanto em função da beleza, como das propriedades terapêuticas. Existe uma infinidade de espécies à disposição, especialmente no Brasil, em função do clima. Lembre-se, no entanto, de escolher plantas adaptadas ao clima da região em que você mora, para evitar surpresas desagradáveis.
• Alecrim – Fonte de cálcio, ferro e vitamina B6, tem propriedades adstringentes, antialérgicas, anti-inflamatórias, antioxidantes e sudoríficas (aumenta a transpiração). O alecrim é também considerado um energético natural.
O Rosmarinus officinalis é usado especialmente para tratar febres, resfriados e gripes, em infusões, inalações e cataplasmas. No entanto, muitas pessoas relatam os benefícios no combate aos sintomas do reumatismo, gota e artrite, e no alívio de dores nevrálgicas e musculares. O alecrim é considerado um excelente tônico capilar.
O alecrim pode ser cultivado em vasos ou diretamente na terra, onde gera arbustos que podem ultrapassar 1,5 metro de altura. É cultivado também como planta ornamental, em função das flores rosa e roxas. Está adaptado a todos os tipos de clima, mas as plantas jovens podem não resistir a um inverno mais rigoroso. O alecrim gosta de luz solar direta (ao menos algumas horas por dia) e solo bem drenado.
• Hortelã – com propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, antissépticas, calmantes digestivas, expectorantes e sudoríficos, a hortelã também fornece um chá delicioso para os dias frios. As folhas podem ser trituradas e polvilhadas em frutas e legumes, para aumentar a captação de nutrientes.
A hortelã fornece ferro, manganês e vitaminas A e C. É muito útil no tratamento de problemas digestórios (como azia, náuseas e vômitos), combate dores musculares e abdominais, febres e dores e cabeça. A erva combate o mau hálito e atenua os sintomas da síndrome do cólon irritável.
A espécie mais cultivada é Mentha spicata, a hortelã-verde. O arbusto pode atingir um metro de altura; em vasos, dificilmente ultrapassa os 30 centímetros. As plantas preferem clima mais ameno e suportam bem as temperaturas baixas. A hortelã pode ser cultivada em hortas a céu aberto, mas o ideal é que haja um anteparo, para que não fiquem expostas ao Sol durante todo o dia. O solo deve ficar umedecido.
• Erva-cidreira – é uma erva calmante, antiespasmódica, anti-inflamatória, antioxidante, antiviral e digestiva. O consumo do chá à noite ajuda a diminuir problemas de insônia, ansiedade e estresse. O óleo essencial pode ser pingado na fronha, por seu efeito sedativo suave.
Também conhecida como capim-limão, a erva-cidreira pode ser usada para atenuar cólicas menstruais e os sintomas do reumatismo e problemas gastrointestinais. Sinais de nervosismo, como dores de cabeça, agitação e palpitações, são combatidos pela planta.
A erva-cidreira verdadeira (Melissa officinalis) é uma planta perene, isto é, mantém as folhas durante o ano inteiro. O cultivo não requer grandes cuidados, a não ser o uso de fertilizante foliar no início de cada estação. O plantio deve ser feito em covas rasas e é preciso retirar as novas mudas, para fortalecer o desenvolvimento. A erva-cidreira é conhecida por atrair abelhas, porque o cheiro do seu óleo semelhante é parecido com o dos feromônios dos insetos.
• Manjericão – além dos muitos usos culinários, esta erva tem propriedades antibacterianas, anti-inflamatórias, antioxidantes e antissépticas. As folhas, especialmente quando consumidas frescas, são ricas em vitaminas A, C e K, cálcio, cobre, ferro, magnésio e manganês, além de ácidos graxos como o ômega 3.
O manjericão (Ocimum basilicum) é útil para tratar flatulência, falta de apetite, tosse, náuseas e enjoos, dores de cabeça e cálculos renais. Em aplicações tópicas, a erva combate a acne e reduz as inflamações de cortes e arranhões. A inalação é útil para combater o estresse e a ansiedade.
A planta não suporta baixas temperaturas: abaixo dos 18°C, ela só pode ser cultivada em ambientes protegidos. O manjericão gosta de luminosidade e precisa de exposição direta ao Sol por algumas horas diariamente. O solo deve ser bem drenado, preparado com adubo antes do plantio. Durante a germinação, a terra precisa ficar úmida, mas não encharcada: escassez e excesso de água são prejudiciais ao manjericão.
• Orégano – para muitas pessoas, esta erva tem “cheiro de pizza”. O orégano é um estimulante natural e apresenta propriedades antibacterianas, anti-inflamatórias, carminativas (combate o excesso de gases intestinais), diuréticas e sudoríficas. É também um expectorante suave. Uma curiosidade: o orégano é mais aromático e saboroso quando as folhas são consumidas secas, ao contrário da maioria das ervas.
O orégano é rico em fibras, cálcio, ferro, magnésio, manganês e zinco, além de ômega 3, vitaminas A, B3 (niacina), C, E e K. Estes nutrientes podem ajudar a eliminar as toxinas, acelerando o metabolismo e colaborando inclusive para o emagrecimento.
As plantas adultas atingem 80 centímetros de altura. O orégano se desenvolve com facilidades em regiões de clima ameno ou moderadamente quente. Suportam até 32°C, mas a produção e o viço são melhores entre os 21°C e 25°C. O orégano precisa ser exposto à luz intensa:
quanto mais luminosidade receber, mais aromáticas serão as folhas. O orégano cresce em solos pobres, mas a fertilização ajuda bastante.
• Salsinha – está presente em dez entre dez pratos da culinária brasileira. É uma boa fonte de óleos voláteis essenciais, flavonoides e antioxidantes. É uma boa fonte de vitaminas A, B9 (ácido fólico), B12 (cobalamina), C e K.
Os usos medicinais principais são: tratamento de infecções urinárias, cálculos renais, constipações (prisões de ventre), gases, tosse, bronquite asmática e artrite. Também contribui para controlar o diabetes tipo 2 e a hipertensão arterial, além de purificar o hálito. A salsinha, nome comum a diversas ervas do gênero Petroselinum, é tida como afrodisíaca.
A salsinha se desenvolve em qualquer tipo de clima, mas prefere o clima frio e seco. As altas temperaturas induzem a planta a florescer precocemente. A erva gosta de locais frescos, com incidência parcial da luz solar. O solo ideal deve ser rico em material orgânico, úmido, mas não encharcado. As sementes podem demorar para germinar até seis semanas. Por isto, dê preferência a mudas já formadas.
• Tomilho – o chá é excelente para combater gripes e resfriados, além de outras doenças comuns no início da estação fria. Nas infecções já instaladas, o tomilho reduz a possibilidade de pneumonias e bronquites. Esta erva é considerada também como um antibiótico natural.
Rico em fibras, cobre, ferro, manganês e vitaminas A e C, o tomilho apresenta propriedades antibacterianas e expectorantes. O uso tópico é um importante auxiliar no tratamento de micoses (especialmente nas unhas) e de acne. O chá pode ser empregado para aliviar excesso de gases e diarreias leves.
O Thymus vulgaris é a espécie mais comumente usada na culinária. É uma planta perene, com arbustos de até 50 centímetros de altura. O tomilho não é exigente: cresce sob altas e baixas temperaturas e desenvolve-se melhor quando recebe luz solar em abundância. A erva só não gosta de terrenos excessivamente úmidos. É mais fácil cultivá-lo em solos pedregosos, condição fácil de imitar em vasos e floreiras.