Existem várias causas para a má digestão: além das doenças do trato gastrointestinal, que devem ser avaliadas por um profissional, o problema muitas vezes é decorrente dos hábitos de alimentação: não apenas os pratos que frequentam a nossa mesa, mas também a forma como ingerimos as refeições e a quantidade de líquido que a acompanha.
Entre os vilões, encontram-se os pratos gordurosos (inclusive as frituras, especialmente quando feitas em imersão no óleo), comidas picantes ou muito condimentadas e alimentos com excesso de fibras, principalmente quando as pessoas estão incluindo fibras na dieta.
O mal estar da má digestão varia de acordo com os motivos: quem “exagera no garfo” pode sentir o desconforto ainda na mesa de jantar ou apenas alguns minutos depois. Por outro lado, pacientes que sofrem com transtornos do sistema digestório demoram um pouco mais – a azia, por exemplo, surge quando o estômago começa a digerir os alimentos.
Outros maus hábitos bastante comuns que determinam a má digestão: ingerir os alimentos com muita rapidez, fazer refeições em pé (a força da gravidade faz a comida chegar rápido demais ao estômago) e esforços excessivos depois do almoço e jantar, principalmente.
Mais um fator que pode desencadear a má digestão: o estresse emocional, que pode inclusive desencadear gastrites e úlceras pépticas. Cada indivíduo reage de forma diferente às pressões do dia a dia – família, trabalho, estudos, etc. Neste caso, o alívio do mal surgirá apenas com o enfrentamento e superação do transtorno psicológico.
Tabagismo e alcoolismo contribuem negativamente, irritando as mucosas gástrica e duodenal (tecidos que revestem o estômago e o duodeno). Por fim, o uso prolongado de alguns medicamentos também irrita as mucosas; neste caso, o médico responsável pelo tratamento pode alterar a medicação.
Ainda no capítulo “remédios”, existem muitos produtos da indústria farmacêutica que combatem os sintomas da má digestão. O melhor tratamento, no entanto, precisa ser individualizado (não basta ir à farmácia e pedir um antiácido, por exemplo) e sempre acompanhado por mudança nos hábitos alimentares.
A descrição para má digestão
O nome técnico para a má digestão é dispepsia, vocábulo grego formado pelo prefixo “dys”, que indica negação, e a raiz “pepsis”, com significado de digestão. Vale lembrar que “má digestão” não é um termo sinônimo de “indigestão”.
Esta última ocorre de forma esporádica, devida a uma causa específica (ingerir alimentos ou condimentos desconhecidos ou a que se está pouco habituado, por exemplo). A má digestão tende a se tornar crônica e pode surgir mesmo com o estômago vazio. Em casos mais acentuados, podem surgir náuseas e vômitos, devidos à acidez estomacal.
Como combater a má digestão
Antes de apresentar algumas formas de combater a má digestão, é preciso lembrar que as manifestações constantes da doença são um alerta para procurar um médico. É importante investigar se a dispepsia não está associada a algum quadro clínico mais sério, como refluxo esofágico, gastrite ou úlcera.
Prova disto é que cada organismo reage de maneira diferente a determinados tipos de alimentos. Indivíduos mais suscetíveis podem passar a tarde inteira sofrendo depois de um almoço apimentado, enquanto outros, que comeram o mesmo alimento, não apresentam nenhum tipo de desconforto; mesmo entre estes, porém, fatores como temperatura e umidade relativa do ar podem ser responsáveis por mal estares.
Alimentos leves
A digestão é um dos processos metabólicos que mais gera calor. Por isto, nos dias mais quentes, é preciso renunciar à feijoada, à dobradinha e às massas pesadas (que demandam até três horas para serem digeridas), para evitar a indisposição. Além disto – e esta dica vale para todos – é necessário dar atenção especial à mastigação.
A função básica da alimentação é o fornecimento de nutrientes para o corpo e a boa absorção destas substâncias começa na boca. A digestão tem início com a mastigação e a insalivação. É fundamental que os alimentos cheguem ao esôfago muito bem triturados. Além disto, a mastigação também ameniza os sintomas da má digestão.
Entre os alimentos leves, podemos relacionar: carboidratos (especialmente cereais e tubérculos, como batata e mandioca), frutas, legumes e verduras. Apesar da má fama, o pepino consumido com casca não causa o transtorno. As frutas cítricas (laranja, manga, abacaxi, limão, morango, etc.), no entanto, devem ser substituídas por frutas alcalinas (banana, melão ou mamão).
Fontes de proteínas (carnes, leite e derivados, leguminosas) também figuram na relação dos alimentos leves. No entanto, o consumo dos cortes muito gordurosos precisa ser limitado. As carnes devem ser preparadas grelhadas, cozidas ou assadas.
Os líquidos
Alguns minutos depois das refeições, quem sofre com má digestão pode lançar mão de diversos tipos de chás. Os chás verde, de alecrim e de hortelã costumam oferecer bons resultados, porque ativam as enzimas digestórias, facilitando a passagem e “quebra” dos alimentos.
Durante o almoço e jantar, porém, evite o excesso de líquidos, que incham o estômago, naturalmente provocando desconfortos. O órgão tem capacidade de dilatar-se até 40 vezes (em jejum, as paredes do estômago estão praticamente aderidas).
As bebidas gasosas (refrigerante e cerveja, por exemplo) aumentam ainda mais o volume do estômago, que tem de sofrer com o peso dos alimentos sólidos e líquidos, que também dissolvem as enzimas digestórias, retardando ainda mais o processo.
Quanto mais distendido estiver o estômago, maior será o tempo de permanência da má digestão. Por isto, durante as refeições, reduza a ingestão de líquidos a 200 ml (equivalente a um copo americano) de água ou suco.
Um resumo
Para combater a má digestão, portanto, é preciso seguir as seguintes recomendações:
- deixe de comer rápido demais;
- não se alimente deitado ou com o prato apoiado no braço do sofá. Ao se alimentar, mantenha a coluna vertebral ereta;
- esqueça as bebidas gasosas durante as refeições;
- não permaneça durante muitas horas sem se alimentar. O ideal é fazer pequenos lanches entre as principais refeições (frutas, iogurtes, barras de cereais, etc.);
- abandone o cigarro e evite o excesso de bebidas alcoólicas. A nicotina inalada a cada tragada também se deposita no estômago, reduzindo a capacidade de contração do órgão. O álcool irrita a mucosa gástrica e altera as membranas do intestino, prejudicando a absorção dos nutrientes;
- se possível, principalmente depois do almoço, tire uma soneca. Com isto, o fluxo sanguíneo é dirigido principalmente ao sistema digestório, facilitando o trânsito dos alimentos. Mas restrinja o repouso a apenas 30 minutos.