Apesar de não ser exclusividade masculina, a calvície afeta especialmente os homens. O motivo é que o principal responsável pela queda dos fios é um hormônio masculino: a testosterona. As mulheres também produzem esta molécula altamente especializada, mas em quantidade menor.
O resultado é que o universo dos calvos é habitado majoritariamente por homens. A quantidade de testosterona presente no organismo feminino é sete a oito vezes menor. Muitos pesquisadores têm anunciado a cura da calvície, mas até hoje os resultados obtidos são limitados ou muito caros, fora do alcance da maioria da população.
A testosterona é segregada principalmente pelos testículos (machos) e ovários (fêmeas); as glândulas suprarrenais também participam da produção. Nos homens, o hormônio é fundamental pelo desenvolvimento dos tecidos reprodutores, como os testículos e a próstata.
A testosterona é também responsável pelas características sexuais secundárias: aumento da musculatura, da massa óssea e crescimento dos pelos corporais. No organismo feminino, é uma substância fundamental para a prevenção da osteoporose. A saúde e bem estar de homens e mulheres são afetados pelo hormônio.
Por que ficamos calvos?
O motivo básico da calvície é a interação da testosterona com as raízes dos cabelos, que se desenvolvem no interior dos folículos capilares. Ao atingir as raízes, o hormônio sofre a ação de uma enzima; em consequência desta reação bioquímica, surgem algumas substâncias que passam a reduzir a velocidade de multiplicação das células das raízes e até mesmo provocar a morte delas.
A enzima responsável é a 5-alfa-redutase, que transforma o hormônio em uma versão bem mais forte: o di-hidrotestosterona (DHT). Esta alteração ocorre em outras regiões do corpo, como próstata, testículos e suprarrenais. A calvície é um “efeito colateral” desta ação bioquímica, que parece promover a miniaturização folicular. Com isto, a fase de crescimento se torna cada vez mais curta, os períodos de descanso se prolongam gradativamente, resultando em fios mais ralos e finos, até que finalmente deixem de nascer.
Os principais determinantes da calvície, portanto, são genéticos. No entanto, alimentação incorreta e higienização inadequada podem interferir no crescimento e no calibre dos fios. O aumento da oleosidade do couro cabeludo pode gerar descamação (caspa), e isto pode prejudicar a saúde dos cabelos. No entanto, é preciso considerar que o DHT também atua sobre as glândulas sebáceas, aumentando a oleosidade junto à raiz dos fios.
Outras atitudes podem favorecer e acelerar o desenvolvimento da calvície: uso contínuo de géis (especialmente os não indicados para o tipo de cabelo), abuso dos secadores ou da água quente nas lavagens, tingimentos, alisamentos ou permanentes.
O uso de bonés e chapéus que pressionam determinadas áreas do couro cabeludo é prejudicial por motivo semelhante: ele aumenta a temperatura da região e estimula a produção das glândulas sebáceas.
Entre as mulheres, as alterações hormonais ocorridas durante a menopausa contribuem para a rarefação dos cabelos. Por fim, poluição do ar, exposição a elementos pesados e até mesmo o estresse e a tensão emocional contribuem para o início ou aceleração da calvície.
O implante capilar
Apesar de não ser acessível a todos, o implante capilar pode ser considerado uma espécie de cura para a calvície. A Medicina já descobriu que a perda dos cabelos, por determinantes genéticos, sempre começa pelas entradas (acima das têmporas).
Muitas pessoas calvas costumam dizer que os cabelos começaram a cair na fronte, prolongando a fronte; outros afirmam que a “tonsura de padre”, uma espécie de halo no alto da parte posterior do couro cabeludo, foi o primeiro local a desnudar-se dos fios.
Na verdade, o que diferencia estas duas condições é a velocidade do avanço da calvície. Quando ela se torna acelerada, a “carequinha de padre” pode surgir antes mesmo da identificação das entradas.
Dermatologistas e cirurgiões plásticos, no entanto, já identificaram a perda da sequencia dos fios, e também descobriram que as áreas laterais e posterior são sensivelmente menos suscetíveis à ação do DHT. Por isto, para realizar o transplante capilar, os cabelos destas regiões são aparados de modo que sejam retirados com os folículos pilosos, para posterior implante no topo da cabeça.
Novos tratamentos para a queda de cabelos
O estudo mais promissor parece estar sendo desenvolvido em Kobe, no Japão. O Núcleo de Inovação Biomédica anunciou, em 2014, os projetos para inaugurar o Centro de Expansão e Processamento da Shiseido, que centralizará a pesquisa e desenvolvimento da medicina regenerativa capilar, visando à comercialização de produtos que, em tese, poderão popularizar a cura da calvície.
A medicina regenerativa, no Japão, está progressivamente sendo encampada pela iniciativa privada, com apoio – e incentivo – do governo, que está propondo uma série de alterações na legislação, através de uma reforma econômica.
A Shiseido é uma das mais antigas empresas de cosméticos do mundo, tendo sido inaugurada em 1872. A empresa concluiu, em 2013, um acordo de cooperação técnica com a Replicel Life Sciences, um grupo bioempreendedor canadense.
Com o acordo, a nova empresa reserva uma licença geográfica exclusiva na Ásia (inclusive o Japão), para usar a tecnologia de regeneração capilar Replicel-01 (RCH-01), que prevê o uso de células-tronco do folículo piloso no tratamento da calvície.
O produto deverá ser introduzido no mercado internacional em 2018. A diferença principal do tratamento é que os folículos extraídos do couro cabeludo são cultivados in vitro. Identificados os folículos saudáveis, que permaneciam dormentes em funções de interações hormonais, “despertam” e passam a produzir novos fios, além de induzir os folículos da região a também reduzirem o período de descanso.