A Cabala (que significa “receber tradição”, em hebraico) é um corpo de ensinamentos esotéricos e ocultistas originados do Judaísmo. Trata-se de um conjunto de ensinamentos que tentam explicar o relacionamento entre o imutável (Deus) e o universo finito (nós). Ian Mecler, um brasileiro de 49 anos estudioso desta escola de pensamento, decidiu unificar os conhecimentos e escreveu “A Dieta da Cabala”, publicado em 2015.
O objetivo do livro é audacioso: de acordo com o autor, a dieta da Cabala é um manual para “trazer a cura de todos os maus hábitos”. A proposta não se resume à tão popular reeducação alimentar, mas uma maneira inédita de encarar a vida, exercitando a mente e renovando a alma, eliminando os vícios e defeitos a partir da origem destes comportamentos. A obra é composta por 22 aulas, que devem ser executadas em 22 dias, mesmo número de letras do alfabeto hebraico.
Quem é o autor?
“A Dieta da Cabala – 22 Dias para Transformar Corpo, Mente e Alma”, publicado pela Editora Record, é um método dividido em três etapas que se interpenetram: justamente o corpo, a mente e a alma. Ian Mecler é um medalhista de jiu-jitsu que sempre se interessou por religião e esoterismo.
No período dos campeonatos de artes marciais, no entanto, a espiritualidade de Mecler teve de ficar em segundo plano. Aos 34 anos, depois de um grave problema de saúde, o lutador participou de um encontro com um xamã siberiano e, a partir daí, a sua vida começou a mudar.
A sede pelo transcendentalismo levou Mecler a diversas fontes: ele estudou astrologia, frequentou centros espíritas, tendas de Umbanda e foi iniciado no Xamanismo. Contudo, foi na Cabala que ele encontrou as respostas.
Desde 2003, o mestre cabalista dedica o seu tempo à divulgação de suas convicções e divide o seu tempo entre Rio de Janeiro e São Paulo, onde ministra aulas e palestras. Ian Mecler é autor também de “O Místico”, “A Cabala e a Arte de Ser Feliz”, “O Poder de Realização da Cabala”, “As Dez Leis da Realização” “A Força – o Poder dos Anjos na Cabala” e “Aqui Agora: o Encontro entre Jesus, Moisés e Buda”.
O método
A primeira etapa da dieta da Cabala pode ser definida como uma série de exercícios e atitudes para que cada um de nós entenda a necessidade de eliminar alguns alimentos do cardápio. Na verdade, trata-se de descobrir a desnecessidade destes itens no nosso dia a dia.
O objetivo central, neste momento, não é apenas perder peso, mas aprimorar os nossos mecanismos orgânicos, para entendermos como cada alimento afeta – positiva ou negativamente – o funcionamento do corpo físico. Esta primeira fase é simples, consistindo apenas em obedecer (ou introjetar) as sete regras básicas:
• reduzir o consumo de sódio (presente principalmente no sal de cozinha);
• reduzir o consumo de açúcar;
• reduzir o consumo de glúten (proteína encontrada no endosperma – a parte interna das cascas dos grãos de cereais como trigo, cevada e centeio);
• incluir sementes na dieta alimentar;
• aumentar o consumo de água;
• aumentar a presença de “alimentos vivos” às refeições. Por alimentos vivos, deve-se entender as frutas, verduras, legumes, raízes, etc.;
• acrescentar “alimentos pacíficos” ao cardápio. São os pratos que não incluem produtos de origem animal (carnes, vísceras, etc.).
Não se trata de um ritual religioso. A meta central desta primeira fase é equilibrar o funcionamento orgânico e, efetivamente, os procedimentos conduzem à harmonia metabólica e ao melhor aproveitamento dos nutrientes, como proteínas, lipídeos, açúcares, vitaminas, sais minerais e fibras.
Além disto, a adoção destas práticas contribui para reduzir processos inflamatórios causados pelos “alimentos maléficos”: carnes gordurosas, industrializados (com efetiva redução de nutrientes), embutidos, congelados, etc. Tudo isto objetiva proporcionar melhor qualidade de vida.
A segunda etapa
A dieta da Cabala, neste segundo momento, pretende incentivar a identificação e eliminação de certos hábitos negativos associados a qualquer tipo de trauma vivenciado em algum momento da trajetória da vida. Estes problemas, comuns a todos, sempre de acordo com o guru cabalista, são originados por “espécies de sementes” que cada um de nós cultivou a partir de algum momento da vida: na mente do próprio indivíduo, elas nascem, desenvolvem-se e geram atitudes negativas. Em outras palavras, tornam-se seres vivos (que, por definição, nascem, crescem, reproduzem-se e morrem).
A meta é atacar cada um destes problemas a partir da sua gênese. Na “árvore da Cabala” – o cerne deste conjunto esotérico, a identidade pessoal tem início no conhecimento, mas eleva-se até a sabedoria. Para entender um pouco melhor, o entendimento surgiu, no Antigo Testamento, quando o casal primordial (Adão e Eva, entre os ocidentais) comeu o fruto do bem e do mal.
A partir deste momento, crucial para a história, os homens foram apresentados ao conhecimento, mas não tiveram acesso à sabedoria. Na Cabala, a “sabedoria” é a energia pura, ainda não materializada. Cumprido este estágio, o ser ascende e conhece as manifestações que ocorrem em dimensões livres e atemporais.
Na dieta da Cabala, a superação dos traumas é apenas mais um passo para esta transcendência. É a superação de algumas raízes mantidas em nossa vida desde que adquirimos conhecimento, na primeira infância.
A segunda etapa, que pode ser resumida em incorporar alguns hábitos – descobertos conscientemente, que podem combater os hábitos negativos geradores dos traumas, incorpora técnicas de meditação e pode ser resumida em:
• saber compartilhar;
• descobrir a possibilidade de dizer sim;
• descobrir a possibilidade de dizer não.
A terceira etapa
Neste momento, ocorre a internalização dos progressos obtidos, mediante a espiritualização do ser. Para Ian Mecler, o caminho para atingir este estágio consiste na recitação de mantras e salmos em horários específicos do dia. É muito importante, nesta etapa, que o praticante entenda o sentido dos textos enunciados, não os repetindo apenas por repetir.
Um mantra (em sânscrito, “controle da mente”) é uma sílaba, palavra ou verso que deve ser repetido continuamente. A prática teve origem no Hinduísmo, mas é largamente empregada no Budismo, no Jainismo e em práticas espirituais sem vínculo com as religiões formais.
Já os salmos (louvores ou músicas) estão apresentados no Antigo Testamento, no livro imediatamente subsequente ao Livro de Jó. São atribuídos a Davi (o segundo e maior rei de Israel, de acordo com a tradição religiosa). Na tradição cabalística, estes textos devem ser cantados ou ritmados, uma vez que todos os sons são dotados de grande poder.