Desde que nascemos, estamos acostumados a dar um abraço para manifestar gratidão, afeto, amizade, amor, etc. Trata-se de uma linguagem não verbal que permite expressar os nossos melhores sentimentos. Agora, a ciência vem demonstrando que o abraço não é apenas um gesto simbólico: ele exerce efeitos psicológicos poderosos, que alteram inclusiva a nossa produção hormonal e de neurotransmissores (as substâncias que permitem as comunicações entre as células nervosas).
Uma pesquisa da revista holandesa “Psychological Science”, da Universidade de Utrecht, comprovou alguns efeitos impressionantes do abraço: um deles é reduzir o medo da morte. O mero fato de abraçar ou apenas tocar em alguém acalma os temores existenciais.
Os efeitos psicológicos dos toques interpessoais são tão fortes que até simulacros de aproximações afetivas, tais como true touches e até mesmo a presença de um animal de estimação. Talvez você nunca tenha reparado nisto, mas todos nós precisamos de contato físico.
Razões para abraçar
Apesar de precisarmos muito dos abraços, não exercemos este hábito com a regularidade com eu deveríamos. É importante repensar esta frequência, para que possamos obter todos os benefícios. Os efeitos do abraço não são simbólicos: eles afetam diretamente a nossa saúde.
Os abraços devem substituir os dois (ou três beijinhos), mas é necessário que eles sejam atos naturais.
Os motivos para abraçar mais são muitos. Os brasileiros são conhecidos por serem carinhosos demais – esta é uma crítica comum em outros países –, mas talvez os estrangeiros tenham de repensar o óbice: além de ser um ato carinhoso, ele traz vários efeitos benéficos à saúde.
O abraço também ajuda a reduzir a frequência cardíaca. Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte (EUA) chegou à conclusão de que voluntários que não mantiveram nenhum contato com parentes e amigos durante 24 horas registraram uma taxa de dez batimentos cardíacos a mais por minuto.
Em repouso, o coração normal de um adulto bate entre 60 e 80 pulsações por minuto. Frequências mais altas podem levar a um infarto do miocárdio, a principal causa de mortes no Brasil, como mais de 100 mil óbitos a cada ano.
Como é evidente, os chamados “abraços forçados”, trocados em eventos sociais, não exercem quaisquer efeitos positivos sobre o organismo humano. O sentimento precisa estar presente no ato, para que as reações psicológicas e hormonais possam causar benefícios. No entanto, estes mesmos benefícios são praticamente imediatos.
Pessoas que têm o hábito de se abraçar com frequência tendem a ser mais tolerantes e menos apáticas. Um abraço naturalmente gera um sorriso (ou mais de um) e este é um comportamento humano que abre as portas para o diálogo. Nós aprendemos isto há diversos milênios (antes mesmo do surgimento dos hominídeos), mas muitas vezes nos esquecemos deste detalhe fundamental.
Os bebês
De acordo com cientistas da Universidade de Emory (Atlanta, Geórgia, EUA), uma das principais referências no ensino de medicina em todo o planeta, acompanhou 131 de seus alunos e ex-alunos, bem como os filhos de voluntários.
A pesquisa comprovou que a tendência ao estresse é muito menor quando somos frequentemente abraçados enquanto nós somos bebês; na verdade, os bebês não conseguem sobreviver sem carinhos nem abraços: o contato físico é tão importante para eles quanto a amamentação.
Além disto, as crianças crescem com mais segurança e autoconfiança. E existe um benefício extra para os papais que querem (e merecem) o sagrado descanso noturno: bebês que são abraçados com regularidade conseguem relaxar com mais facilidade e, desta forma, dormem durante a noite inteira, se não tiverem problemas de saúde.
O abraço aumenta a sensação de bem-estar. Quando nós somos abraçados (especialmente na primeira infância), nos sentimos acolhidos, protegidos e apoiados. O próprio autoabraço é um exemplo disto. Em uma situação que nos deixa nervosos, como uma entrevista de emprego ou uma tentativa de falar em público, um abraço pode fazer maravilhas: basta que seja dado por uma pessoa amada, em quem nós confiamos.
Não nos lembramos desta época porque o sistema nervoso central ainda não estava plenamente funcional. Portanto, abrace os seus bebês; assim, quando adultos, eles serão menos ansiosos e terão menor tendência a desenvolver a depressão.
O hormônio do prazer
Outro estudo, desta vez conduzido por neurologistas da Universidade de Viena (Áustria), publicado em 2008, também demonstra que o abraço reduz o medo, a ansiedade e o estresse – em crianças e adultos. O abraço promove o bem-estar e fortalece a memória, por estimular a produção de ocitocina, um hormônio que, entre outras funções, desenvolve o apego entre as pessoas, produz o medo de situações desconhecidas e também está relacionado ao prazer sexual.
A ocitocina liberada na corrente sanguínea de duas pessoas que se abraçam, conduz ao relaxamento muscular, diminui a velocidade do fluxo sanguíneo e da pressão arterial e dos níveis de cortisol, hormônio diretamente envolvido nas respostas ao estresse. Em outras palavras, a substância está envolvida nas respostas rápidas em situações de emergência.
De acordo com cientistas da Universidade Metropolitana de Manchester (Inglaterra), além da ocitocina, um abraço também estimula a produção de dopamina, neurotransmissor relacionado ao prazer em situações de recompensa. A desregulação da dopamina está relacionada ao mal de Parkinson e das crises de esquizofrenia. O hormônio está envolvido no controle dos movimentos, aprendizado, cognição, memória, humor e emoções.
O sistema imunológico
Este aparelho anatômico, formado basicamente pela medula óssea, timo, vasos linfáticos, tonsilas, baço, adenoides, apêndice cecal e glóbulos brancos (macrófagos, leucócitos, linfócitos, etc.), é o responsável por proteger o nosso organismo contra invasões de micro-organismos nocivos, como protozoários, fungos, bactérias e vírus, ou contra outros agentes, como a poluição, a radiação solar ultravioleta e o veneno de animais peçonhentos. Quando as nossas defesas estão baixas, sofremos viroses, infecções fúngicas e bacterianas e inflamações – desde um simples resfriado até uma pneumonia, que pode ser letal.
Os hormônios liberados com um abraço exercem efeitos profundos no sistema imunológico. Além disto, um abraço de uma pessoa a quem amamos tem propriedades relaxantes sobre a musculatura (inclusive o coração) – e isto estimula a queda dos sentimentos de tristeza.
Os macrófagos, presentes no sangue e no tecido conjuntivo, têm a função específica de fagocitar (digerir algumas substâncias do organismo). Os linfócitos, classificados como CD4, CD8 e T, produzem anticorpos contra substâncias daninhas e destroem células anormais.
A serotonina
Os efeitos psicológicos do abraço sobre o coração continuam: estes gestos estimulam a circulação sanguínea e, com isto, eliminam a tensão muscular, as irritações de pele e as alergias. Um abraço amigo transmite felicidade e segurança, porque provoca o aumento da serotonina (o chamado hormônio do prazer), uma das substâncias produzidas pelo cérebro que permitem a comunicação entre os neurônios (as células do cérebro). A serotonina desempenha papel importante em diversas áreas do corpo. Entre elas, destacam-se:
• a regulação do sono;
• a eliminação de vários distúrbios do humor, inclusive a depressão;
• o tratamento de enxaquecas;
• a manutenção do bom humor;
• a sensação mais prolongada de saciedade entre as refeições;
• o bom desempenho sexual;
• a redução dos sintomas da tensão pré-menstrual (TPM).