Depois de uma overdose de alimentos embutidos, muito salgados, cheios de produtos químicos – deliciosos, mas nocivos à saúde humana –, os consumidores lentamente passaram a exibir hábitos mais saudáveis. Entre eles, a inclusão de alimentos orgânicos no cardápio, que oferecem muitos benefícios para a saúde.
Apesar de este tipo de produto ainda ser estranho para a maioria dos brasileiros – o mercado de orgânicos representa apenas 1% do consumo de alimentos no país – o crescimento está acelerado. Em 2015, o comércio de alimentos social e ecologicamente corretos aumentou em 25% e, para 2016, os produtores preveem alta de 30%.
O que são alimentos orgânicos?
São aqueles itens alimentícios cuja produção emprega exclusivamente técnicas que respeitam, em todas as etapas, a sustentabilidade (reduzindo ao máximo o impacto ambiental) e visam ao aumento da qualidade dos produtos.
Na produção de itens de origem vegetal e animal, não são utilizando fertilizantes agrícolas (os populares agrotóxicos) no preparo da terra, semeadura, desenvolvimento, colheita, nem no manejo dos animais. As rações também são orgânicas e diversos farmacêuticos vêm desenvolvendo medicamentos e vacinas que não deixem traços nos alimentos adquiridos pelo consumidor final.
Na agricultura orgânica, são utilizados apenas sistemas naturais para combater as pragas da lavoura, como a introdução de espécies predadoras dos parasitas. A ausência de insumos sintéticos torna os alimentos mais saborosos.
Na produção pecuária orgânica, carne, leite e ovos são obtidos a partir animais criados sem aplicação de medicamentos antibióticos, hormônios de crescimento e anabolizantes (utilizados para aumentar a massa muscular). Estes produtos químicos acumulam-se no organismo humano e podem causar doenças do médio prazo; por isto, seu consumo é contraindicado.
Os principais benefícios dos alimentos orgânicos
• Os alimentos orgânicos são livres de aditivos químicos; são mais saudáveis e saborosos;
• a produção agropecuária desenvolve técnicas que permitem respeitar o ambiente, evitando-se a contaminação do solo, da água e da cobertura vegetal. Além disto, uma das preocupações é garantir a qualidade de vida e o fomento socioeconômico das populações rurais;
• a conservação do solo é garantida graças à rotatividade das lavouras (por exemplo: um terreno exaurido pela produção de soja pode se recuperar com a plantação de milho na safra seguinte). As culturas agrícolas podem dar lugar inclusive a pastos para o gado bovino, suíno, ovino e caprino, os mais consumidos pelos brasileiros;
• a produção também adota diretrizes de responsabilidade social, reduzindo substancialmente a substituição da mão-de-obra. Alimentos orgânicos geralmente demandam mais agricultores e tratadores de gado e pescado.
A produção de alimentos orgânicos, no entanto, não dispensa o emprego de fertilizantes. A diferença é que, na produção dos vegetais (os produtos hortifrutigranjeiros), a adubação é garantida por agentes como húmus de minhoca, esterco curtido e fertilização com leguminosas, que captam gás nitrogênio da atmosfera, transferindo-o para o solo; este é um dos melhores adubos para plantações de dimensões maiores.
A única desvantagem dos alimentos orgânicos é o preço. Por ser um mercado ainda limitado (que produz em menor escala) e por exigir o transporte, em muitos casos, por distâncias consideráveis, os custos de produção são bem mais elevados.
Alimentos convencionais
A técnica convencional de produção de alimentos, adotada ainda no início do século XX, utiliza maquinário pesado, que prejudica o solo, e insumos químicos para obter alimentos de origem animal ou vegetal, na forma de fertilizantes, defensivos, pesticidas, fitofarmacêuticos, fitossanitários, medicamentos, vacinas e indutores do crescimento.
Todas estas substâncias prejudicam não apenas o solo, mas também os recursos hídricos (inclusive os riachos, lagoas e depósitos subterrâneos de água) e o ar. Vale lembrar que os insumos químicos são carregados pela chuva e pelo vento, podendo atingir áreas distantes das fazendas, sítios, hortas e cooperativas de produção de alimentos.
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Quando pesticidas manipulados artificialmente (antibióticos, fungicidas, inseticidas, biocidas, rodenticidas, etc.) são dispensados, a biodiversidade local é preservada. As populações de insetos, moluscos, roedores e outras pragas afetam os cultivares são controladas por predadores naturais, mas nunca são totalmente eliminadas. Além disto, o ar mais puro favorece a multiplicação de pássaros e até mesmo de mamíferos, répteis e anfíbios nativos dos locais de produção de alimentos.
Os animais criados para produção de alimentos orgânicos também são beneficiados: o gado é alimentado com vegetais orgânicos e mantido em locais mais amplos e menos estressantes. Isto permite dispensar os hormônios e reduz a instalação de doenças, que, quando ocorrem, são tratadas preferencialmente de forma natural.
Os lençóis freáticos contaminados na superfície podem intoxicar cursos d’água (lagoas e rios). O aquífero Guarani, por exemplo, ocupa uma área de 1,2 milhão de km2 estendida no subsolo de Uruguai, Argentina Paraguai e, principalmente, Brasil.
O volume do aquífero, o segundo maior do mundo, seria capaz de suprir as necessidades hídricas da população brasileira por 2.500 anos. Infelizmente, qualquer contaminação na superfície, por menor que seja, apresenta potencial para degradar este mar subterrâneo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica como defensivos agropecuários sintéticos qualquer substância com potencial de oferecer riscos ou incômodos aos grupos humanos e animais não apenas nas regiões em que estes produtos são aplicados, mas também em todo o trajeto até os pontos de venda – supermercados, sacolões, feiras livres, armazéns, entrepostos, quitandas, bares, restaurantes e assemelhados.
Os fabricantes dos insumos químicos disponibilizam técnicos de alto nível para orientar a aplicação dos agrotóxicos, mas, em alguns casos, não existem limites seguros para o emprego destas substâncias. Além disto, quando os agentes daninhos se multiplicam sem controle, a tendência dos produtores, via de regra, é “aumentar as doses”, mesmo que isto não signifique maior eficácia.
Alimentos orgânicos no Brasil
No Brasil, já podem ser encontrados legumes, frutas, verduras, grãos, ovos e cortes de carne. O país é beneficiado por dispor de áreas mais extensas de pastagem e de coleta. A criação de animais de granja ou pasto em áreas amplas ajuda a eliminar o estresse e garante bois, porcos, cabras, ovelhas, galinhas, perus, patos, codornas, etc. muito mais saudáveis.
Estes cortes, ao chegarem à mesa do consumidor final, fornecem teores mais elevados de nutrientes e nenhum traço de contaminação por produtos químicos. Além disto, a pecuária extensiva exige a aplicação de menos recursos, o que consegue viabilizar financeiramente a produção.
Os produtos orgânicos precisam ser certificados, para garantir que a integridade das ações sustentáveis foi mantida em todo o processo produtivo. Apenas agricultores familiares têm autorização para comercializar os itens sem certificação, desde que integrem uma organização de controle social cadastrada nos órgãos fiscalizadores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e de órgãos estaduais e regionais.
Os produtores médios e grandes precisam obter o selo SisOrg (Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica), através de certificação por auditoria ou por um sistema participativo de garantia, normalmente gerenciados por comitês gerados em convênios entre o MAPA e as secretarias estaduais de agricultura.
A Coordenação de Agroecologia (Coagre) da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC) é o setor do MAPA que responde pelo fomento da produção orgânica e pela elaboração de normas e mecanismos de controle.