O nariz é um dos órgãos mais afetados do corpo no tempo seco. Sempre que a umidade relativa do ar cai, surgem os problemas: o órgão coça, fica entupido, irrita, incomoda, surgem os espirros. Quando isto acontece, muitas pessoas recorrem aos descongestionantes nasais sem orientação médica – são mais de 50 marcas de venda livre disponíveis no mercado.
Pacientes com alergias, rinite ou sinusite também costumam abusar destes medicamentos, que são vendidos sem prescrição e uma das causas da rinite medicamentosa é justamente o uso continuado dos descongestionantes nasais. É importante salientar que os descongestionantes nasais são meros paliativos: eles não combatem o problema.
A falta de chuva, independente da temperatura do dia, provoca o aumento das partículas suspensas no ar e ajudam a formar crostas no nariz – as famosas cacas. Este é um fator que facilita a entrada de microrganismos nas vias aéreas superiores.
O perigo está principalmente na adoção de descongestionantes nasais em gotas. Os medicamentos em spray são seguros, mas, por custarem mais caro, são menos procurados nas farmácias e drogarias. De qualquer forma, eles não devem ser usados sem prescrição médica.
O mecanismo de ação dos descongestionantes nasais
As gotinhas dos descongestionantes nasais exercem efeito vasoconstritor (a contração dos vasos cardíacos – artérias e veias, em consequência da contração de um músculo liso). A vasoconstrição ocorre naturalmente quando a temperatura ambiente cai.
Para regular a temperatura do organismo e compensar as variações, a hipófise e o hipotálamo enviam uma mensagem para todos os órgãos e tecidos. Como resultado, a circulação sanguínea periférica é reduzida, para garantir a irrigação nos órgãos do sistema nervoso, torácicos e abdominais.
No entanto, as gotinhas dos descongestionantes nasais (o nariz é um local muito vascularizado) provocam este efeito justamente porque, quando o nariz fica entupido, as artérias e veias se dilatam, dificultando a respiração.
Por outro lado, este mecanismo de vasodilatação é uma resposta orgânica para impedir a invasão por vírus e bactérias – e é justamente desimpedimento quase imediato proporcionado pelos medicamentos o responsável pela popularidade destes medicamentos.
Otorrinolaringologistas recomendam que o uso dos descongestionantes nasais não ultrapasse três dias consecutivos. Com o uso contínuo, a mucosa nasal passa a absorver parte dos princípios ativos, que são conduzidos à corrente sanguínea, determinando os problemas de saúde.
Os problemas causados pelos descongestionantes nasais
Quando as narinas ficam irritadas, muita gente corre para a farmacinha doméstica em busca dos descongestionantes nasais. No entanto, o uso contínuo, apesar de propiciar um alívio momentâneo, pode causar problemas de saúde mais ou menos graves.
Em excesso, os descongestionantes nasais provocam lesões nas mucosas das narinas. Este é um fator determinante da dependência química e psicológica nestes medicamentos (em alguns casos, os pacientes usam os descongestionantes nasais mesmo sem apresentar sintomas).
O mecanismo do círculo vicioso é simples: o abuso dos descongestionantes nasais determina necessariamente a utilização de dosagens cada vez mais elevadas do medicamento para alcançar o alívio. Os pacientes aumentam a dose quase inconscientemente, expondo-se a riscos cada vez maiores e mais graves.
Além disto, o abuso pode aumentar os riscos de desenvolvimento de doenças cardíacas, como taquicardia, elevação da pressão arterial, rinite medicamentosa e angina pectoris. Em casos mais graves, o abuso pode provocar derrames. De acordo com a Academia Brasileira de Rinologia, o uso incorreto de descongestionantes nasais está em terceiro lugar entre a população, perdendo apenas para os analgésicos e anti-inflamatórios.
A taquicardia é o ritmo acelerado e irregular dos batimentos cardíacos, geralmente de 100 batimentos por minuto, podendo atingir até 400. Com estas frequências, o coração perde a capacidade de bombear a o sangue arterial (rico em oxigênio, o combustível das células) de forma eficiente. Entre os sintomas, os mais comuns são:
- falta de ar;
- tontura;
- astenia (fraqueza) súbita;
- palpitação;
- atordoamento;
- desmaios.
A angina pectoris (ou de peito) é uma dor súbita no tórax, devida ao abastecimento insuficiente de oxigênio para o músculo cardíaco. “Angere”, em latim, significa “estrangular”. Na maioria dos casos, a dor é causada por obstruções ou espasmos das artérias coronarianas (os vasos sanguíneos do coração). Os principais sintomas são:
- desconforto do tórax, geralmente descrito como pressão, ardor, aperto ou sensação de choque;
- irradiação da dor para as costas, ombros (especialmente o esquerdo), pescoço e queixo;
- suores e náuseas, seguidas ou não por crises de vômito.
As crises de angina pectoris duram de um a cinco minutos e são acalmadas por repouso ou medicação específica. Eventos de mais de 15 minutos podem indicar a presença de angina instável, ou mesmo de um infarto do miocárdio.
As principais substâncias responsáveis pela dependência química são nafazolina, fenoxazolina e oximetazolina. A maioria dos descongestionantes nasais também apresenta, em sua composição, o cloreto de benzalcônio, um conservante bastante utilizado pela indústria farmacêutica. O abuso do medicamento pode determinar inclusive a perda do olfato.
Descongestionantes naturais
A recomendação mais comum dos médicos – a melhor maneira de limpar as narinas – é a higienização com soro fisiológico a 0,9% (o soro deve ser guardado na geladeira, para evitar contaminações que só piorariam o quadro clínico). A aplicação duas vezes por dia – de manhã e à noite, antes de se deitar – é suficiente para pessoas saudáveis, sem histórico de rinite ou outras inflamações nasais.
A limpeza das narinas também pode ser feita durante o banho, uma vez que a água e o calor ajudam a amolecer as crostas e facilitam a higienização. Uma solução de água com uma pitada de sal e uma colher (café) de bicarbonato de sódio exerce o mesmo efeito.
Em casos mais graves, é possível fazer vaporizações com folhas de eucalipto, agulhas e brotos macios de pinheiro, hortelã, suco de limão e Aloe vera (babosa). Basta aquecer um litro de água e deixar as substâncias naturais em infusão por alguns minutos.
Transfira a mistura para um refratário, coloque uma toalha de banho cobrindo a cabeça e a tigela e inale as emanações por alguns minutos, até que a água esfrie. Estas soluções, que possuem efeito descongestionante, anti-inflamatório e antisséptico, podem ser usadas todos os dias, preferencialmente à noite.
Um método chinês garante o descongestionamento das vias aéreas – não apenas das narinas, mas também da laringe e traqueia. Fatie e asse cinco cebolas grandes, cubra-as com óleo vegetal e deixe-as repousarem por 30 minutos, no forno (ainda quente, mas já apagado).
Coloque-as em um pano limpo (a flanela é uma boa opção), lubrifique o peito com azeite e aplique o cataplasma de cebola por 30 minutos. Depois da aplicação, é importante não se expor a temperaturas frias, nem a correntes de vento.
O alho também é um bom agente de alívio. Pessoas que sofrem com o nariz entupido devem ingerir dois dentes de alho cru em dias alternados, durante uma semana. Por fim, o gelo é um excelente auxiliar: coloque várias bandejas de gelo em uma bacia e mergulhe os pés, mantendo-os até que os dedos fiquem dormentes.
Para minimizar o problema, é importante:
• não fumar, nem se tornar um fumante passivo (fique longe da fumaça de cigarros e charutos). As substâncias tóxicas do tabaco afetam não apenas o nariz e a boca, mas favorecem o acúmulo de água nos pulmões e deprimem o sistema imune, facilitando a instalação de diversas doenças;
• evitar as mudanças bruscas de temperatura. Sempre que possível, mantenha-se abrigado, especialmente durante as noites e enquanto chove. Vista agasalhos apropriados (deixe uma peça no carro e no trabalho, para não ser pego de surpresa);
• pratique exercícios físicos regularmente. Este é um conselho válido para todos, especialmente para os portadores de alergias, rinites e sinusites. O sedentarismo é um inimigo para a saúde, inclusive dos pulmões;
• os alérgicos devem evitar o contato com alergênicos, que afetam as vias aéreas. Procure identificar os principais fatores que provocam as crises – poluição, pelos de animais, pólen de flores, etc.