Também conhecida como doença do gato, a toxoplasmose é uma doença congênita ou adquirida, transmitida pelo protozoário Toxoplasma gondii, de distribuição mundial. Os hospedeiros definitivos deste microrganismo são os felídeos, enquanto aves e outros mamíferos são intermediários.
O protozoário faz com que os hospedeiros percam o medo da urina dos gatos & Cia., tornando-os presas fáceis dos inimigos naturais; por exemplo, um chimpanzé deixa de entrar em alerta ao sentir o cheiro da urina de um leão ou guepardo. O fenômeno ocorre também nos homens.
As causas
O T. gondii é um dos parasitas mais comuns do mundo. Ele pode ser transmitido pela ingestão de ovos presentes em alimentos contaminados, especialmente a carne crua e mal passada (o protozoário é mais comum na carne de porco e de cordeiro).
Vegetais – principalmente hortaliças e frutas rasteiras – também podem abrigar cistos do T. gondii, desde que tenham sido expostos às fezes de um animal infectado. O encistamento consiste na formação de uma substância que o parasita secreta em torno do próprio corpo, permanecendo inativo por períodos mais ou menos longos. É uma estratégia de preservação contra condições ambientais desfavoráveis, como o frio ou calor intenso.
A infecção é muito comum. Em São Paulo, estima-se que até 80% da população adulta tenha história pregressa de toxoplasmose. Em regiões nas quais o consumo de carne é mais elevado (como os Estados do Sul), o percentual atinge até 90% e, na França, praticamente todas as pessoas com mais de 18 anos, graças ao consumo elevado de carne de cordeiro.
A toxoplasmose não é transmitida de humano para humano. No entanto, o contato direto com fezes ou cistos do T. gondii não são as únicas formas de transmissão. A infecção também pode ocorrer com a partilha de talheres e com transmissões de sangue em más condições de higiene e manipulação inadequada dos instrumentos.
O agente da toxoplasmose
Nos ambientes urbanos, o principal vetor da toxoplasmose é o gato doméstico. Os bichanos infectados pelo T. gondii eliminam ovos pelas fezes e contaminam todos os que partilham a casa, inclusive outros animais de estimação. Cabe lembrar que o gato não manifesta sinais desta doença.
Não é preciso entrar em contato com o animal portador do protozoário. A maioria dos gatos tende a se esconder quando chegam estranhos à casa (visitas ou prestadores de serviços). Mesmo assim, o “estranho” pode se sentar na poltrona predileta do bichano, entra em contato com o T. gondii, leva à mão à boca: a toxoplasmose está instalada.
Donos responsáveis precisam evitar alimentar os gatos com carne (especialmente crua). Mamíferos adultos, mesmo que não tenham protozoários em circulação no sangue, podem apresentar cistos nos músculos (eles são invisíveis a olho nu). Alimentos de procedência duvidosa, contaminados, transmitem o T. gondii de maneira direta. Os animais também não devem ter contato com gatos estranhos.
Os fatores de risco
Por ser um microrganismo de ampla distribuição geográfica, presente em praticamente todas as regiões tropicais e temperadas do planeta, o T. gondii é transmitido com relativa facilidade e não há registro de indivíduos naturalmente defendidos contra a toxoplasmose.
No entanto, algumas pessoas estão mais suscetíveis à ação de vírus, bactérias e fungos:
• HIV/ AIDS: portadores do HIV, mesmo assintomáticos, sem terem desenvolvido qualquer outra infecção, têm o sistema imunológico debilitado, em função da atividade primária do vírus;
• quimioterapia, radioterapia e imunoterapia: pacientes em tratamento contra o câncer também sofrem com a baixa resistência;
• medicamentos imunossupressores: são empregados no tratamento de doenças autoimunes e no pós-operatório de transplantes, para evitar a rejeição do novo órgão.
A transmissão vertical
A toxoplasmose pode ser transmitida pela mãe para o bebê, quando a primoinfecção (a infecção inicial, ou primeiro contato com o agente infeccioso) ocorre durante a gravidez. O parasita atinge o feto através da placenta e causa danos de diferentes gravidades, dependendo do tempo de gestação já decorrido.
A infecção fetal pode inclusive levar a um aborto espontâneo, de acordo com a severidade do caso. No entanto, identificada nos exames pré-natais, é possível submeter mãe e filho a tratamentos com bons prognósticos.
Caso o primeiro exame de sangue indique que a futura mãe já contraiu toxoplasmose (e curou-se da doença), o caso é outro: a mulher já desenvolveu defesas contra o protozoário e, desta forma, o bebê está totalmente seguro.
Quando a mãe contrai toxoplasmose até a 15ª semana de gestação, a taxa de transmissão é pequena (5%), mas os danos são graves para o recém-nascido. O bebê pode, por exemplo, ter encefalite ou apresentar lesões oculares, com prejuízo grave da visão. A probabilidade de aborto espontâneo é relativamente grande.
Nos dois terços finais da gravidez, a transmissão é bem mais elevada (80%), mas os bebês geralmente nascem assintomáticos ou com sinais mais amenos da doença. Existe um pequeno risco de déficit intelectual para os bebês infectados no segundo trimestre da gestação.
Os sintomas
Em muitos casos, a toxoplasmose pode não gerar qualquer sintoma, ou ter os sinais confundidos com os de uma gripe (dor de cabeça e de garganta, febre moderada, coriza, fadiga, etc.). Desta maneira, o paciente nem sequer fica sabendo que se infectou com o T. gondii.
É importante notar que não apresentar sintomas, porém, não significa que não houve infecção; a boa notícia é que a exposição ao protozoário confere imunidade ao individuo afetado.
Outros indivíduos avaliados como saudáveis reagem à invasão com febre alta, inchaço nos gânglios linfáticos pelo corpo todo, mas a infecção cede, apesar de poder haver recidivas quando ocorrem deficiências na resistência orgânica.
Pessoas com o sistema imunológico comprometido podem sofrer com sintomas específicos, tais como convulsões, problemas de coordenação motora, confusão mental e visão embaçada. Algumas infecções oportunistas, como a pneumonia, podem se instalar.
Diagnóstico e tratamento
Na maioria dos casos, a toxoplasmose passa despercebida, por ser assintomática ou manifestar sintomas facilmente confundidos com os de uma gripe ou resfriado forte. Apenas um exame de sangue específico pode identificar a presença do T. gondii no organismo.
Este hemograma é obrigatório no primeiro exame pré-natal e no acompanhamento de pacientes portadores do HIV, de doenças autoimunes (nas quais o sistema imunológico se volta contra o próprio organismo) e indivíduos com indicação de cirurgias de qualquer porte.
Qualquer pessoa que perceba sinais persistentes de embaçamento da visão, confusão mental e perda de coordenação deve procurar orientação médica. A toxoplasmose pode, em uma minoria dos casos, provocar lesões sérias no sistema nervoso central.
Os pacientes com sintomas leves não precisam de medicação, mas a prescrição médica acelera o período de recuperação (sem tratamento, os sintomas podem permanecer por até seis semanas). Comprometimentos neurológicos exigem acompanhamento mais aprofundado. É importante lembrar que a toxoplasmose tem cura, mas as sequelas deixadas por ela, não.