Apesar de toda a comodidade conferida pela informática, as pessoas continuam assoberbadas, com agendas lotadas. Podemos fazer uma videoconferência, mas, em lugar disto, preferimos perder horas no congestionamento. Pagamentos podem ser feitos pela internet, mas continuamos perdendo tempo em longas filas no banco.
Tudo isto (e muito mais) faz com que fiquemos mais tempo acordados, desregulamos o relógio biológico e prejudicamos a qualidade do sono. A solução pode estar nos remédios de dormir, mas eles podem causar dependência, afetar a concentração necessária ao período de vigília e até afetar a vida amorosa e sexual. Na verdade, são um perigo.
Contudo, é preciso tomar cuidado: um estudo publicado pelo British Medical Journal indica que os usuários regulares de remédios para dormir têm entre três e quatro vezes mais probabilidades de sofrer morte precoce. Por usuários regulares, entendam-se as pessoas que tomam mais de quatro comprimidos por ano.
Excesso de atividades
Com tantas tarefas a serem executadas no dia a dia, o cérebro demora mais para “desligar” no momento de ir para a cama. Este fato provoca crises de insônia e fazem a festa dos fabricantes de remédios para dormir, muitos deles vendidos sem receita médica.
Muitas pessoas despertam no meio da madrugada e não conseguem mais conciliar o sono. No dia seguinte, o quadro se repete. Surge a ansiedade e é quase natural procurar métodos não naturais para garantir o repouso noturno. Surgem os calmantes, tranquilizantes, “medicamentos incríveis”, de acordo com amigos e parentes.
Fases do sono
O problema é que o sono artificial é prejudicial à saúde. O organismo precisa de um verdadeiro ritual para dormir: primeiro, surge a sonolência, que convida ao sono leve. Em seguida, os movimentos dos olhos se detêm e a atividade cerebral tem o ritmo reduzido; o corpo se resfria e o descanso começa a ficar mais completo.
Chega o sono profundo, que alterna fases de verdadeira calmaria do cérebro (ondas delta) com ondas cerebrais mais rápidas. Nesta fase, o despertar é bastante difícil, geralmente acompanhado por grande desorientação. A quarta fase é caracterizada pelas ondas deltas. O descanso é total.
O ciclo do sono se encerra com a fase REM (rapid eye Movement), caracterizado pelos sonhos. Cada fase dura entre 90 e 120 minutos, e se repete até o despertar. Por isto, cada pessoa tem necessidades diferentes de descanso noturno.
Os perigos dos remédios para dormir
Os remédios para dormir, no entanto, alteram este ciclo. É claro que, aqui, não estamos falando de medicamentos fitoterápicos, mas mesmo estes podem causar efeitos colaterais, como dores de cabeça, vômitos, queda da pressão arterial e dos batimentos cardíacos.
O assunto aqui gira em torno das drogas utilizadas como terapia coadjuvante à avaliação médica e à psicoterapia. Os psiquiatras e neurologistas geralmente resistem em receitar estes remédios para dormir isoladamente, já que eles não eliminam os fatores que determinam a insônia: atuam apenas como indutores artificiais ao sono.
A indústria farmacêutica classifica os remédios para dormir em oito categorias, e cada uma delas apresenta riscos e efeitos colaterais, se não for acompanhada por especialistas. São comuns os casos de cefaleia, fadiga (com a consequente queda da qualidade no trabalho, nos estudos e mesmo nas atividades sociais e de lazer).
A automedicação de remédios para dormir podem causar dependência severa, distúrbios gastrointestinais, piora dos eventos respiratórios (especialmente para quem tem apneia do sono). A maioria dos sedativos é contraindicada para grávidas e lactantes.
Muitas pessoas disfarçam esta automedicação, utilizando medicamentos para alergias, descongestionantes nasais e antieméticos (contra enjoo e vômitos), que provocam, entre os efeitos colaterais, um aumento do sono. Este é um expediente que apenas mascara o problema, sem conduzir a qualquer solução concreta.
No longo prazo
Um dos principais motivos que determinam o acompanhamento médico dos pacientes que tomam remédios para dormir é a forte possibilidade da criação de dependência química e psicológica a partir do terceiro mês de uso contínuo.
Mesmo que as pessoas em tratamento não apresentem efeitos colaterais incapacitantes (como não conseguir dirigir ou perder a concentração no trabalho), a dependência continua sendo um risco real, que precisa ser acompanhado por um profissional especializado.
Existe um mito sobre os remédios para dormir: o uso prolongado degeneraria os neurônios. Isto é uma imprecisão. Na verdade, alguns remédios, como os ansiolíticos (ou benzodiazepínicos), atuam como depressores do Sistema Nervoso Central (SNC), reduzindo a atividade das células nervosas e determinando quadros periódicos de amnésia.
Diversas pesquisas apontam que algumas drogas prejudicam a capacidade cognitiva de portadores de demências (como o mal de Parkinson) e, por isto, devem ser evitados por pessoas idosas.
Os ansiolíticos, por outro lado, são um grupo de medicamentos que podem ajudar no tratamento da insônia, especialmente quando a doença está associada a quadros de ansiedade. Mesmo assim, a prescrição não deve ultrapassar três ou quatro semanas.
A indústria farmacêutica vem desenvolvendo outra classe de remédios para dormir, os chamados não benzodiazepínicos, que apresentam efeitos colaterais menos intensos. É importante lembrar, porém, que todos estes medicamentos dependem de receita médica.
O que fazer?
Os tratamentos psicoterapêuticos apresentam bons resultados. A Terapia Comportamental Cognitiva tem a vantagem de ser breve. Pacientes com depressão, síndrome do pânico e transtorno obsessivo compulsivo podem ser grandemente beneficiados.
Existem outras técnicas para conciliar o sono: relaxamento e meditação (são diversas técnicas) são boas alternativas para o tratamento medicamentoso. Pessoas religiosas podem se recolher alguns minutos antes de dormir para fazer as suas preces.
Evitar estimulantes refeições pesadas à noite, eliminar fontes luminosas do quarto de dormir, reduzir as horas de TV e internet, manter o ambiente silencioso (na medida do possível) são outras medidas que ajudam a garantir um sono de qualidade.
O importante é procurar sempre auxílio médico. Mais de quatro episódios de insônia em uma semana já acendem o sinal amarelo. A boa notícia é que as diferentes terapias existentes corrigem a maioria dos problemas do sono.